16 setembro, 2006

A FEIRA


Tantas frutas expostas na banca... De muitas cores, formatos e perfumes.As crianças remelentas passam, olham, pedem. Procuram rapidamente por um pedaço suculento. Olhar extenso, desejo intenso, acompanhado de hálito ácido, de quem tem gastrite ou fome mesmo.Os velhos ficam ali por horas, uma verdadeira eternidade, caminham espaçadamente, sentam-se para descansar, suspiram, puxam papo com o primeiro indivíduo que aparece, na sorte de contar suas repetitivas histórias, e poder dizer exatamente qual o verdadeiro sabor de cada fruto.As donas de casa pomposas, munidas de seu grande potencial argumentativo, escolhem, cheiram e pechincham uma caixa da fruta da temporada. Mas não olham nos olhos de ninguém, só querem mais e mais.Os homens escolhem bem, apalpam, comparam, experimentam os sabores diversos. Apreciam cada lasquinha, facilmente cedida, e por eles tão desejada.Diversas pessoas circulam por ali, de muitas cores, formatos e perfumes. E como os frutos de final de feira, apodrecem. Em algum momento algo é perdido, o gosto, o cheiro, a cor. O prazer, a saciedade, a voracidade, o desejo, a busca. Enfim, se torna fétido.