PURPURINA DE RUA
das cores, das aspas e afins
18 junho, 2010
29 janeiro, 2010
J. D. Salinger - para relembrar
Medo, insegurança, pureza, conflito e, sobretudo juventude. Particularidades do comportamento humano em um momento único na vida de todos os indivíduos. Esse foi o recorte escolhido pelo nova-iorquino Jerome David Salinger ao retratar Holden Caulfield – um adolescente de dezessete anos à beira de um ataque de nervos.O impactante romance “O Apanhador no Campo de Centeio” publicado no início dos anos 50, se por um lado celebrado como a bíblia da juventude, também causou polêmica por parte de críticos que não o consideraram uma obra literária de importância – por sua linguagem jovial recheada de gírias e palavrões que fazem parte da realidade da rapaziada. Controvérsias à parte, o fato é que Salinger deu voz a quem não tinha vez: o jovem, em plena geração pós-segunda guerra. Ninguém havia escrito sobre a juventude de tal forma, ou melhor, havia descrito a juventude – suas dúvidas, maluquices, receios, inconformismos, enfim, o autor plantou ali a semente da rebeldia que viria a se fortalecer ainda mais com a geração beatnik, poucos anos após a publicação de “THE CATCHER IN THE RYE”.Salinger foi inovador ao chegar tão perto da existência e confusão de ser jovem, ao criar sua personagem – nosso ANTI-HERÓI – Holden Caulfield; um cara nada confiável, reprovado na escola, contestador, mentiroso, inteligente, sensível e muito cínico. Holden conquistou gerações – até hoje, em todo o mundo. Seu criador, no entanto, se tornou um mistério, com todo o sucesso de sua obra, Salinger fugiu dos holofotes, refugiando-se da sociedade, não dá entrevistas e muito menos permite ser fotografado, no duro.Criador e criatura estão muito próximos, Holden nos conta em alguns trechos de seu desejo de ir para o Oeste, morar numa cabana, isolar-se – possível influência de Thoreau e Whitman – como fez seu inventor. Além disso, o inquieto Holden detesta cinema, assim como J. D. Salinger que até hoje não autorizou a adaptação para o cinema de sua maior criação. Tem mais, o autor serviu o exército na Segunda Grande Guerra – um breve comentário de Holden acerca de “Adeus às Armas” de Ernest Hemingway, livro que trata entre outras coisas, da Guerra Espanhola: “tinha no livro um sujeito chamado Tenente Henry que era considerado um bom sujeito e tudo. Não sei como o D.B. podia detestar tanto o exército e a guerra e tudo, e ao mesmo tempo gostar de um cretino daqueles”.Em uma leitura superficial, pode-se resumir o romance como a passagem de um final de semana da vida de um jovem: não se sabe especificamente onde ele se encontra, mas sabemos que está sob tratamento mental em alguma instituição. A história de Holden é narrada a partir de um sábado na escola Pencey, na qual foi reprovado em algumas matérias e expulso. A caminho de casa, antes do tempo e sem o conhecimento de seus pais, Holden nos conta das pessoas que procurou, das que encontrou, dos novos lugares, sempre contando histórias, mentiras e criticando a todos, até encontrar-se com sua irmã mais nova Phoebe, em Nova Iorque.Ingenuidade do leitor que não percebe a grande trajetória em questão. Holden Caulfield não é apenas um adolescente chato, mal resolvido e mal humorado. Ele é a passagem da infância para o mundo adulto e suas responsabilidades. E esse é o seu maior MEDO. Para o jovem rapaz, os adultos são falsos e mentirosos, perderam a inocência e a honestidade que as crianças têm. Holden diz que os adultos são falsos, ok, mas não percebe que ele mesmo está o tempo todo criticando e mentindo para as pessoas – é a forma que encontrou para se proteger, por se achar único, o que justifica o uso diário de seu chapéu de caça.Numa tentativa fantasiosa para se justificar o garoto Caulfield inventa dois mundos: o da hipocrisia adulta e o da inocência infantil, querendo de qualquer forma permanecer puro – mesmo já corrompido por seu cinismo – essa fantasia fica clara quando Holden conta à Phoebe sobre sua vontade de ser o apanhador no campo de centeio: “fico imaginando uma porção de garotinhos brincando no campo de centeio. Milhares de garotinhos e ninguém por perto. Eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê eu tenho que fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo”. O diálogo entre os irmãos no qual Holden conta de seu desejo imaginário é a melhor sacada do livro, o título – inspirado num verso do poeta Robert Burns – e porque não dizer poético, é a metáfora desta transição tão temida por Caulfield. Ele estaria ali evitando que a inocência fosse perdida num abismo. Perder a pureza é tão ruim quanto cair num abismo, não tem volta.
20 novembro, 2009
E viva Zumbi!
08 novembro, 2009
Pílula da Felicidade
Seria essa infelicidade global um tipo de epidemia, o mau uso da tecnologia? Ou seria natural do homem?
Será a felicidade uma pílula de efeito momentâneo, será ainda possível contrabandiá-la, fazer estoques, ou ainda conservá-las no congelador?
Isso me faz lembrar Huxley mas, enfim, o que você faz com a sua felicidade?
*Cheshire cat, retirada do Google
20 setembro, 2009
Na onda dos filmes de terror asiáticos
Taí o resultado da minha pequena história de uma foto só de tema "chuta que é macumba", desafio de um grupo do FLICKR de bonequeiros!
15 setembro, 2009
O Triste Fim de Maiakóvski
31 agosto, 2009
16 agosto, 2009
Como eu reaprendi a "brincar" de bonecas
20 julho, 2009
O Canibalismo Amoroso - Affonso Romano de Sant'Anna
De uma certa maneira, este livro pretende escrever a história do desejo em nossa cultura. A história do desejo dramatizado através da poesia. Os poetas sempre foram considerados os grandes cantores do amor. Pois aqui eles nos servem de guias. Na verdade, através da linguagem deles estou querendo falar das fantasias eróticas do homem comum. Se a história do homem é a história de sua repressão, estudar o desejo e a interdição é uma maneira de penetrar melhor nessa mesma história. Aliás, se os poetas não representassem o imaginário social, suas obras não resistiriam nem teriam tido importância na configuração ideológica da comunidade. Portanto, esses autores que aqui estudo não são nem mais nem menos neuróticos que seus leitores. Se os leitores precisam de suas obras para elaborar suas fantasias é que esses textos são o espelho da fala alheia.
Por isso algumas partes têm subtítulos que se parecem a romances de folhetim ou de aventura. Este é um livro de história, onde o personagem principal é o Poeta-Édipo diante da Mulher-Esfinge. Daí esses capítulos do folhetim do desejo com títulos assim: “Ofélia e o Cisne no espelho líquido da morte”, “Do Pan violador ao Arlequim sedutor”, “O macho castrador reage ante a mulher ameaçadora” etc. E cada capítulo se abre com algumas “proposições”, que são a síntese do enredo, para que o leitor se organize melhor nas peripécias inconscientes do texto.
Adianto que este não é um estudo psicanalítico de autores, mas de obras e textos. Não estou, em princípio, interessado em detalhes biográficos de determinados indivíduos, mas preocupado em localizar em seus textos os sintomas que revelam o inconsciente dos textos. Desse modo, estou interessado no inconsciente dos textos. Esse inconsciente surge aqui como sinônimo de ideologia. Entender o inconsciente desses poemas é entender o inconsciente de uma comunidade e, portanto, sua ideologia amorosa. Assim, o que seriam neuroses individuais se transforma em alucinações coletivas, socializadas pela linguagem literária. Nesse sentido, tomo o texto com uma manifestação onírica social. Considero o texto como uma forma de sonho coletivo, pois os leitores abrem seu imaginário às provocações do imaginário do poeta e aí se hospedam. As metáforas e imagens passam a ser de utilidade pública. Estou, portanto, encarando o texto também como uma forma de mito. Se nas comunidades primitivas os mitos serviam para a tribo expressar seus temores, anseios e perplexidades, o texto poético, entre outros, tem essa função antropológica em nossa cultura. O poeta é o xamã que, ao invocar suas alucinações, faz com que, através delas, toda coletividade reviva seus fantasmas.
De uma certa maneira, este livro é também a história da representação do corpo nos (des)encontros amorosos. Sintomaticamente, aí se verá que o corpo feminino ocupa grande parte do discurso, enquanto o corpo masculino é silenciado. E, reveladoramente, embora o corpo masculino esteja ausente, a voz que fala pela mulher é a voz masculina. Essa é uma constatação aparentemente simples, mas de conseqüências graves. Por onde andou o corpo do homem durante todos esses séculos, salvo raríssimas exceções que, por serem tão excepcionais, só confirmam a regra? Evidentemente, essa ausência do corpo masculino e essa abundância do corpo feminino começam a ser explicadas pelo fato de que o homem sempre se considerou o sujeito do discurso, reservando à mulher a categoria de objeto. Como sujeito, portanto, ele se escamoteava, projetando sobre o corpo feminino os seus próprios fantasmas. Aí ele se porta como ventríloquo: o corpo é d outro, mas a voz é sua. Certamente, aí está também um preconceito histórico, segundo o qual o homem se caracteriza pela razão, pelas qualidades do espírito, enquanto a mulher é só instinto e forma física. A conseqüência disso é múltipla: transformada em objeto de análise e de alucinações amorosas, o corpo da mulher também é o campo de exercício do poder masculino. O homem, então, fala sobre a mulher, pensando em falar por ela. Descreve seus sentimentos, pensando descrever os dela. Imprime, enfim, o seu discurso masculino (muita vez machista) sobre o silêncio feminino. Certamente, essa situação se alterou, sobre tudo nos últimos vinte anos. Mas, por questão de espaço e método, não analiso as produções mais recentes. Isso é assunto para outra pesquisa.
Pode parecer estranho o que vou falar, mas a analise do imaginário amoroso mostra que a nossa cultura está cheia de péssimos amantes. E, repito, os poetas não inventaram nada. A análise desses textos, sob a ótica psicanalítica, revela um desajustamento entre o real e o imaginário, e confirma a afirmativa de Platão, de que desejo é indigência. Esses textos são uma espécie de “relatórios” e “depoimentos” sobre a vida amorosa, antes que os americanos vulgarizassem esses procedimentos para saber da vida erótica das pessoas. A rigor, a literatura, como produto cultural, foi sempre o lugar das grandes confissões, porque nela o desejo sempre expôs sua ânsia de realização. Escrever é desejar.
É espantoso ver (com a ajuda Antropologia,da Sociologia e da Historia) como o medo às mulheres (a misoginia) é uma praga, desde as tribos mais primitivas às sociedades mais industrializadas. È aterrador como o mito da mulher castradora, o mito da vagina deitada, da mulher aranha, e da serpente venenosa vem da antiguidade aos textos mais modernos. Já na Grécia, estava aquela Esfinge sufocando os impotentes. Lá está Echidna, metade serpente e metade mulher; lá está Charibdes – mulher sanguessuga engendrada pela Mãe Terra; já Omfalo, como Deusa Terra matava seus amantes; Empuses e Keres eram ninfas-vampiro, e esta bebia o sangue dos jovens apos a batalha. E existe uma Afrodite – conhecida como “Andrófoba” – que assassinava seus amantes como as deusas Ishtar e Anat. As Harpias eram as mulheres-demônio, Melissa era a abelha rainha e Medusa era uma das Górgonas castradoras dos homens. E, entrando pela mitologia germânica, a Walkírias atualizam as Amazonas na castração erótica mortal. Todas essas figuras complementam os textos sagrados, que nos falam da maldade devoradora de Kali, Lilith e Eva.
Por isso, já que a literatura é o mito rrevisitado, aí estão as mulheres fatais, como Salambo (Flaubert), Carmen (Merimée), Herodiade (Mallarmé), Cleópatra (Gauthier), Salomé (Wilde), Kali (Swinburne) tantas ouras, que o imaginário Greco-cristão construiu esquizofrenicamente para dramatizar o temor de Eva e amor de Maria. Portanto, a historia da metáfora amorosa é, em grande parte, a historia do medo de amar e da incapacidade de vencer fantasmas arcaicos e modernos. É clar que essa historia é a historia contada por homens. E, posto que o homem se elegeu como redator da historia, escolheu para a mulher o papel do outro, colocando nela a imagem do mal e da desagregação.
Uma coisa me fascinou entre outras neste estudo: ver como cada época organiza literariamente seu imaginário erótico. É com se fosse colocada uma linguagem ou uma moeda em circulação e, de repente, todos começam a expressar seus fantasmas dentro daquele código. Como se organiza essa linguagem dentro, acima ou a despeitos dos conhecidos “estilos de época”, é matéria de meditação, e a isso me refiro varias vezes dentro desse livro. Por exemplo, durante o Parnasianismo, o padrão feminino de beleza foi representado pela estatua de Venus e todos os poetas se transformaram em escultores-cultores desse mito, esculpindo em seus versos o seu pulsante desejo. Já no Simbolismo, passa-se dessa estatua desejante e desejada como uma Esfinge, para a temática da noiva morta. Quase todo poeta descreve uma noiva morta, embora isso nada tenha a ver com a biografia de cada um, pois maioria deles morreu burocraticamente (in)feliz e casado. No entanto, a poesia está cheia de cadáveres de virgens e Ofélias, visitas a cemitérios e um definhar constante dos amantes ante os caixões. A mesma coisa a respeito das freiras mortas em suas celas, como se houvesse ocorrido com elas e com as noivas alguma epidemia, ou como se o fato de se falar tanto de freiras e monjas fosse sinal de algum surto espiritual que teria levado tantas virgens aos conventos. No entanto, isso não pode ser medido pelo real, mas, sim, pelo imaginário, que se organiza de acordo com outros imaginários importados de outras culturas. Parafraseando conhecida corrente sociológica, pode-se dizer que se instituiu uma política ou economia do imaginário dependente, que faz com que, aqui nos trópicos ou na fria Noruega, se retrabalhem as alucinações de Baudelaire e Poe.
Tendo esse estudo me obrigado a mergulhar mais fundamente em certos períodos, com o Parnasianismo e o Simbolismo, muito pouco estudados por causa do preconceito que o Modernismo lançou contra o século XIX, de repente me defrontei com descobertas fascinantes, que ajudam a entender melhor nossa cultura e ideologia. Um dia ainda se poderá fazer uma reanálise do Modernismo, para se pesar esse prejuízo que nos causou com sua febre de recomeçar do zero as coisas. Pareceu-me que os poetas do Parnasianismo e Simbolismo, entrevistos como autores sintomáticos, podem nos fornecer um rico material para a compreensão literária de nossa cultura. Por pouco, por exemplo, quase não transformo o estudo dos poetas chamados de decadentes e simbolistas num livro autônomo. Mas, tendo resistido a essa tentação e chegando a poetas como Bandeira e Vinícius, procurei revelar outro Bandeira e outro Vinícius que não aqueles conhecidos. E é interessante constatar como a obra de Bandeira está muito mais ligada às matrizes ideológicas do século XIX do que se pensa. E, de repente, me vejo utilizando-o para acabar de entender o que foi o crepuscularismo erótico e estético ao tempo da art nouveau e da belle époque. Por outro lado, e Manuel Bandeira, a dualidade do amante, entre a santa e a prostituta e a constituição de uma prostituta sagrada como simbiose, dramatizam um problema secular, que se espera nossa cultura esteja esgotando. Vinicius é um poeta muito mal conhecido. Sua poesia, sobretudo a inicial, é de suma importância para se conhecer a utilização de mitos arcaicos na literatura moderna. Sua fragmentação dionisíaca e órfica, entre a “mulher única” e “todas as mulheres”, remete para uma esquizomorfose histórica. Meu estudo se interrompe com Vinicius, porque ele fecha um ciclo de visão da mulher que nos vem do Romantismo. Daí para a frente, a questão do desejo se torna mais diferenciada e parece ter passado por um momento histórico, com a grande liberação erótica dos anos 60 e o surgimento de várias outras linguagens e posturas ideológicas realmente instaladas na modernidade. Mas sobre isso tive de me abster de tratar, não só porque é, em si, uma vasta pesquisa, como também porque sou produtor de poesia, que tenta organizar-se dentro de uma nova visão da realidade, onde o amor entre o homem e a mulher se transforma.
Enquanto ia escrevendo esse livro, em cerca de dez anos de pesquisas, cada vez mais me convencia de que o que estava dizendo aqui, sobre a literatura brasileira, era valido para a grande maioria das literaturas ocidentais de que tenho notícia, e poderia ser exemplificado também na música, no teatro ou nas artes plásticas. Durant as pesquisas, várias vezes fui às literaturas francesa, inglesa, italiana, alemã, portuguesa e espanhola, para verificar o trânsito de certas imagens obsessivas do desejo, e de lá voltava com a confirmação da universalidade refletida na literatura brasileira. Estou convencido de que estudos paralelos (e melhores que este) podem ser desenvolvidos, tomando-se aquelas literaturas como objeto, e assim se entenderá melhor o que é a história do desejo no Ocidente.
Pensei, originariamente, em intitular este livro assim: “O Desejo e a Interdição do Desejo na Poesia Brasileira”. Nessa fase, cheguei a publicar um ensaio: “Literatura e Psicanálise: revendo Bilac”, que está no meu livro Por um Novo Conceito de Literatura Brasileira. A idéia do canibalismo ainda não havia se configurado tão claramente nos textos que estudava. Naquela direção, estudaria a questão de outra maneira: tratava-se de ver como o desejo se deixava representar, tanto na figura da mulher quanto na figura da pátria e na própria palavra usada pelo poeta. Assim, em poemas como “O Caçador de Esmeraldas” (Bilac) e “Martim Cererê” (Cassiano Ricardo), a pátria era a mulher onde o conquistador-colonizador ia verter o sêmen do progresso. Confirmava-se a falocracia econômica, num cruzamento da Psicanálise com a História e a Sociologia. Por outro lado, tomado como fetiche, a palavra (sobretudo nos textos onde o poeta confessa a sua ars poética e nos chamados movimentos de Vanguarda) converte-se no objeto da pulsão erótica. O poeta fala da palavra como se fala de uma mulher. Não é outra, aliás, a direção do discurso filosófico e estético ocidental: a verdade é uma mulher atrás de um véu, e cabe ao pensador viril despir, possuir ou violentar esse ser desejável e desejante com seu logos spermaticos.
Ditas, mais ou menos, algumas das coisas que pretendi, agora confesso algumas carências deste livro. Por exemplo: preferi trabalhar apenas com poesia, por questão de método, mas se poderia desenvolver igual estudo sobre a ficção. Dezenas de alunos meus realizaram teses de mestrado e doutorado explorando esses caminhos no romance, demonstrando como é fecunda essa linha de pesquisa. Por outro lado, intencionalmente, não me concentrei nos textos escritos por mulheres: isso seria uma outra empreitada, para a qual estimulei sobretudo alunas em suas teses e projetos de pesquisas. Sei que só quando se desentranhar do silencio a voz feminina recalcada, se terá um panorama mais amplo da história do desejo em nossa cultura.
As analises de poemas, aqui, não são exaustivas. Tive de me conter para não realizar aquilo que nos seminários e cursos tenho a oportunidade de desenvolver com os alunos. Seria, no entanto, interessante publicar, complementarmente a estas analises, um dia e em outro espaço. Por outro lado ia percebendo que, ao estudar o Romantismo, o Parnasianismo e o Simbolismo, grande numero de autores menores e desconhecidos ajudava a reconstituir uma teia de significados importantes para a análise do inconsciente ideológico. Por serem autores menores, cristalizavam com mais facilidade a linguagem alheia. Eram autores sintomáticos. Por outro lado, como a maioria dos autores estudados viveu e escreveu em completa ignorância do que era a Psicanálise, demonstravam uma espontaneidade às vezes comovedora. Certamente, alguns autores modernos, já sabedores dos mecanismos expostos a partir de Freud, acautelam-se mais ao escrever; disfarce que muita vez se converte em denuncia.
Aproximando-me do fim, esclareço que esse estudo é interdisciplinar por natureza. A Psicanálise aqui é o fio condutor, em torno do qual se armam os conhecimentos antropológicos, sociológicos, históricos e literários. Por outro lado, utilizei-me tanto de Freud e Jung quanto de Melanie Klein ou Lacan, quando julguei necessário e procurando um discurso de coerência que atravessasse o discurso deles e de outros ligados a essas escolas. Muitas vezes, surpreendi-me com o fato d que Freud, Lacan ou Jung pudessem ser falocêntricos, como hoje se tornou fácil demonstrar. Espanta o caráter de enigma que conferem à mulher, como se estivessem realmente diante de outro. É sintomático que seja Freud quem tenha dito: “A grande questão... para a qual não encontrei nenhuma resposta durante trinta anos de pesquisas sobre a natureza da mulher é a seguinte: O que querem elas enfim?”.
O titulo do livro, O Canibalismo Amoroso, por cobrir praticamente todas as áreas em estudo nesse volume e pela multiplicidade de significados, pareceu-me sinteticamente mais justo. Preferi não teorizar, nesta introdução, sobre esse assunto partir logo para a análise objetiva dos textos, introduzindo, aos poucos, a teoria sobre o canibalismo, toda vez que fosse necessária. O canibalismo é um traço em nossa cultura, muito mais significativo do que se pensa, tendo gerado até movimentos estéticos vanguardistas na Europa e no Brasil no princípio do século. Não é a toa que o cristianismo é tido como representante, no Ocidente, da ordem canibal ancestral. A idéia do ágape cristão (ceia do amor) e o ritual da hóstia (palavra que significa “vitima sacrificial”) sã uma atualização de um rito intemporal, onde deuses comem homens, homens comem deuses, ou, então, são dramatizados no sangue dos animais mediadores. O canibalismo como ritual pode ser visto, por exemplo, na era cristã. Os epiléticos, em Roma, bebiam o sangue quente dos gladiadores, e o médico do Papa Inocêncio VIII recomendou-lhe sangue de três crianças de dez anos. Da mitologia grega aos mitos indígenas brasileiros, abundam a omofagia e a antropofagia. Por isso, o canibalismo amoroso é apenas uma das formas desse ritual; talvez o que concentre o patológico, o religioso, o alimentar, e, imaginariamente, o mais viável e compulsivo. O leitor verá que, da mulata romântica, abatida e servida na cama-e-mesa do senhor, à “Receita de Mulher” de Vinicius de Moraes, a metáfora persiste como um álibi duplo. O canibalismo amoroso pode realizar-se através da violência sadomasoquista ou através da sedução órfica e dionisíaca.
16 julho, 2009
10 julho, 2009
surpresa para papai!
PUM ZOROPIN ZOQUÉ
O QUÉ QUÉ
O QUÉ QUÉ
ZUM
PIGLIM PIGLIM PIGLIM
CATMARIMBAU
CATMARIMBAU
UECHAU
UECHAU
06 julho, 2009
FLIP 2009 - sábado
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virgem Maria que foi isto maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Café com pão
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
...
Foi o único bate-papo que assisti na tenda da flipinha e valeu muuuuito a pena! Ruth Rocha está completando 40 anos de carreira, mais de 130 livros publicados, em muitas línguas. Autora do clássico - e por que não um clássico?! - Macelo, Marmelo, Martelo, mediada pela também autora de livros infantis Bia Hetzel, falou sobre começo de sua carreira, aos 38 anos, comentou quais são seus livros favoritos e respondeu a muitas perguntas das crianças maravilhadas com o tom doce de vovó de Ruth Rocha.
Ruth Rocha e Bia Hetzel respondendo a perguntas das crianças
FLIP 2009 - sexta-feira
No meio da tarde, andando pela Samuel da Costa, encontramos um grupo - não tenho certeza se local, provavelmente sim, numa batucada de MARACATU! Nada como uma batucada para sacudir o corpo e as ideias, dando mais energia para o resto do dia.
Já Bellatin afirma não se inspirar em sua vida para criar suas personagens - estas tem deformações congênitas, bem como o autor que nasceu sem o antebraço - apareceu na tenda dos autores com uma prótese em formato de pênis. O autor disse que procura se distanciar do que escreve para se tornar leitor dele mesmo, numa tentativa de desaparecer como autor.
Ambos autores leram trechos de suas novas obras.
FLIP 2009 - quinta-feira
No começo da noite, seguimos para a mesa do neodarwinista Richard Dawkins, biólogo inglês que lotou as tendas dos autores e do telão. A mesa mais frequentada por jovens das quais estive. O professor aposentado tem se mostrado um sério defensor do ateísmo, e busca apresentar ao público uma forma mais simples de se entender a Teoria da Evolução. Parecia mesmo tentador.
26 junho, 2009
Ouvir essa música é como abrir uma compota da minha vó, traz lembranças, cheiro e nostalgia. E isso importa. São as grandes coisas que nos marcam. E ele era grande. Como artista era completo. Como gênio, vivia em extremos. Assim como todo grande talento, o mundo não era o bastante.
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