Taí o resultado da minha pequena história de uma foto só de tema "chuta que é macumba", desafio de um grupo do FLICKR de bonequeiros!
20 setembro, 2009
15 setembro, 2009
O Triste Fim de Maiakóvski
Como morreu Vladímir Maiakóvski? Boa pergunta. A versão oficial aponta para um suicídio melodramático, de acordo com o temperamento teatral do personagem. Na nova União Soviética de Stálin -a União Soviética da conformidade, da submissão absoluta, dos planos quinquenais-, o nome maior da vanguarda russa, ostracizado e deprimido, decidira sair de cena. Existe uma outra versão, igualmente colorida: a amante, Lília Brik, uma colaboradora da polícia secreta, teria denunciado os comportamentos "desviantes" de Maiakóvski, e não necessariamente na cama. Caído em desgraça, Maiakóvski foi assassinado. Ou, como na piada bolchevique, barbaramente suicidado. As circunstâncias da morte continuam a fascinar os estudiosos da matéria. Mas, suicidado ou suicidando-se, resta uma certeza que é difícil iludir: Maiakóvski morreu de ingenuidade. Não foi o único e, escusado será dizer, não foi o último: a mesma intelligentsia que recebera os bolcheviques de braços abertos na Rússia campesina e analfabeta de 1917 seria aquela que os bolcheviques acabariam por estrangular mais tarde. Mas quem sabia disso em 1917? Poucos. Em 1917, o passado arcaico e opressivo dos czares seria enterrado pela paixão fraterna dos vermelhos. Sabemos hoje que a história foi diferente. Mais: a história só poderia ser diferente. Ao contrário do que afirmam os beatos, não existe qualquer pureza benigna no ideal marxista; apenas a certeza de que a sua aplicação prática exige sempre violência e desumanidade, como é próprio das "religiões seculares". Kolakowski explica. Raymond Aron explica. E Maiakóvski, à sua maneira, também. Em 1923, no poema dedicado à amante, "Pro Eto" [Sobre Isto], a desilusão do autor era já tangível: a Nova Política Econômica com que Lênin pretendia levantar a União Soviética saída da guerra civil era a primeira grande "traição" à pureza do ideal. A União Soviética, aos olhos do horrorizado Maiakóvski, "aburguesava-se": esquecia as relações humanas autênticas, preferindo os prazeres efêmeros. O poema termina com uma nota de esperança: no futuro, proclamava Maiakóvski, seria possível retomar o rumo e viver um amor desinteressado e verdadeiramente fraternal. (...)
João Pereira Coutinho para a Folha.
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