Acordamos e ficamos surpresos com o bom tempo na cidade, a previsão era de chuva, muita chuva. Aliás, uma das coisas engraçadas dessa viagem foi o guarda roupa invernal dos flipeiros. Não foi muito diferente comigo. Mas sabendo que estaria no Rio de Janeiro, levei sandálias e camisetas além dos casacos e cachecóis, uma mala tipicamente feminina, com quase todas as opções... A manhã era ideal para se caminhar, então seguimos pela beira mar, na Rua da Praia, conhecemos a Igreja de Nossa Senhora das Dores que acabara de ser aberta depois de ficar oito anos fechada para reformas. Fiz três pedidos.
As construções em frente ao mar são ainda mais bonitas e maiores, como nessa foto ao lado, um casarão muito bem conservado, com ar-condicionado, um quintal cheio de plantas e com direito a cachorro!
As portas das casas no centro histórico são mais altas, e tem alguns degraus para o piso térreo, para evitar a entrada da água.
Caminhamos até o cais, por ali nem sinal de flipeiros, todos estavam por perto das tendas, assim ficou fácil perceber a tranquilidade da vida local: muitos pescadores e artesãos.
Voltando ao centrinho, as ruas ainda vazias, cruzamos com o autor Cristovão Tezza fotografando a cidade. Estar em Paraty em plena FLIP é inesquecível - faz bem aos olhos pelas belas construções, as águas da baía cheia de barcos coloridos, e simplesmente por cruzar com vários escritores andando pelas ruas, bem naturalmente.
Sentamos para um café na livraria da cidade - a única no centro histórico. E depois de ver Cristovão Tezza passar, o Marcelo Tas apareceu para gravar uma entrevista para o canal ESPN ali mesmo na livraria, como coordenador da FLIP ele falou sobre a FLIP ZONA, um dos vários ambientes da Festa de Literatura Internacional, só que com maior destaque para os jovens. Tas afirmou que nas últimas edições do evento, a gurizada ficava um tanto deslocada da festa, os adultos frequentavam as tendas do telão e dos autores, as crianças na flipinha e nada direcionado ao público mais jovem. Na FLIP ZONA foram exibidos diversos filmes e documentários, muita coisa criada pelos jovens no local, utilizando a câmera de seus celulares.
SÁBADO É DIA DE FLIPINHA
A Praça da Matriz foi uma atração a parte. Estava toda decorada com bonecos tirados das muitas poesias de Bandeira. Havia também "pés de livros", assim a molecada que passava por ali, podia sentar debaixo de uma árvore e fazer uma leitura. Era muitos livros pendurados. Também estavam por ali algumas mocinhas de voz suave e doce, colocavam um tubo colorido em nossos ouvidos e recitavam versos de Manuel Bandeira. Era tudo mágico, mesmo para os adultos que lotaram a praça no sábado. Algumas fotos:
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virgem Maria que foi isto maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Café com pão
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
...
A molecada salteou-o com atiradeiras
assobios
apupos
pedradas.
Cai cai balão!
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor
Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro Bonacheirão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
E na tenda da Flipinha: Ruth Rocha e Bia Hetzel!
Foi o único bate-papo que assisti na tenda da flipinha e valeu muuuuito a pena! Ruth Rocha está completando 40 anos de carreira, mais de 130 livros publicados, em muitas línguas. Autora do clássico - e por que não um clássico?! - Macelo, Marmelo, Martelo, mediada pela também autora de livros infantis Bia Hetzel, falou sobre começo de sua carreira, aos 38 anos, comentou quais são seus livros favoritos e respondeu a muitas perguntas das crianças maravilhadas com o tom doce de vovó de Ruth Rocha.
Ruth Rocha e Bia Hetzel respondendo a perguntas das crianças
Á noite, a estrela mais brilhante da festa: António Lobo Antunes
A mesa "Escrever é Preciso", uma conversa entre o mestre António Lobo Antunes e o jornalista e também escritor Humberto Werneck começou tímida. Lobo Antunes quase não falou, deixando todos um tanto ansiosos. Quando começou a falar, foi aplauso atrás de apaluso. Para mim , tudo era muito novo: a relação que o autor tem com o Brasil, um de seus avôs viveu por aqui, e o autor emocionou a plateia ao dizer que o Brasil não é para ele um país, e sim "um cheiro, é a comida, maneiras de viver e falar. O Brasil é uma coisa íntima." Também citou muitos nomes da poesia brasileira como Drummond, Murilo Mendes, Cabral, entre outros. Lobo Antunes ainda citou Paulo Mendes Campos, poeta mineiro ainda pouco conhecido por aqui. Para ele, a poesia ensina mais do que a prosa, pois ao ler uma prosa a vontade que tem é de corrigir o texto a todo momento. E essa vontade de corrigir os seus textos foi descrita por ele como um segundo trabalho: o autor disse ser necessário criar com a cabeça e corrigir com as mãos - sugeriu a quem quer escrever, observar um jogo com Garrincha - "é preciso pensar como um Didi e a habilidade de um Garrincha". Ainda falando sobre a criação e o trabalho de um escritor, Lobo Antunes diz que todo livro é uma metáfora e que todo livro é uma reflexão profunda da arte de escrever. Para escrever um bom texto é necessário cortar tudo: advérbios e adjetivos.
Lobo Antunes emocionou ainda mais quando relembrou de uma temporda na França com Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro, às 4 da manhã, Ubaldo fazendo feijoada! E quando questionado se ainda escreve, Ubaldo respondeu: Sim, meu pseudônimo é António Lobo Antunes.
Foi a melhor mesa da FLIP, a mais tocante, verdadeira e bonita. Parecia até que estávamos num balanço diferente, embalados pela voz de Lobo Antunes.
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ResponderExcluirLu, que delícia viu!!!
ResponderExcluirAdorei notícias ... pode me esperar sempre por aqui!
Bjinhos
Tati