29 março, 2009

prêmio dardos 2009


Olha só!

O Purpurina de Rua foi indicado ao Prêmio Dardos 2009,
por intermédio de Fernamdo Rovéri.

O Prêmio Dardos “reconhece os valores que cada blogueiro mostra a cada dia,
seu empenho por transmitir valores culturais, éticos, literários,
pessoais etc. em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento
vivo que está e permanece intacto entre suas letras, suas palavras”.

Agora minha função é indicar outros cinco blogues:

Leituras do Giba
Gilberto Pereira
Jeferson De
Laura Caselli
Cristiano Pluhar
Adriano Mello Costa


Os indicados devem exibir o selo do prêmio em seus respectivos blogues, indicar outros cinco e avisá-los sobre a indicação.

24 março, 2009

Hora do Planeta

Às 20h30 do dia 28 de março de 2009, cidades em
todo o planeta irão apagar as luzes durante uma
hora, num ato simbólico, como uma eloquente
mensagem de que é possível agir contra o
aquecimento global e as mudanças climáticas.


http://www.wwf.org.br/informacoes/horadoplaneta/como_participar/

22 março, 2009

Saint Exupéry na Oca


Saiu na Folha: Exposição "O Pequeno Príncipe na Oca", de outubro a janeiro de 2010, com montagem de Daniela Thomas e Felipe Tassara, a mostra fará da Oca uma espécie de planeta do Pequeno Príncipe.

Deixo aqui uma de minhas adaptações, "A Oferenda do Príncipe", de 2006.














sulfite, guache, plástica



(Insensatez - Tom Jobim / Vinicius de Moraes)

A insensatez que você fez
Coração mais sem cuidado
Fez chorar de dor
O seu amor
Um amor tão delicado
Ah, porque você foi fraco assim
Assim tão desalmado
Ah, meu coração que nunca amou
Não merece ser amado
Vai meu coração ouve a razão
Usa só sinceridade
Quem semeia vento, diz a razão
Colhe sempre tempestade
Vai, meu coração pede perdão
Perdão apaixonado
Vai porque quem não
Pede perdão
Não é nunca perdoado

21 março, 2009

Dia Internacional da Síndrome de Down

Em comemoração ao dia de hoje deixo uma dica literária: "O Filho Eterno" de Cristovão Tezza.

“Um filho é a ideia de um filho”; e que, nem sempre, “as coisas coincidem com as ideias que fazemos delas”. Este inconformismo entre sonho e realidade reflete a busca desse andarilho: tornar-se pai.

Trecho para vocês:

"Várias vezes por dia, em sessões de cinco minutos, a criança é colocada sobre a mesa da sala, de bruços. De um lado, ele; de outro, a mulher; segurando a cabeça, a empregada, uma moça tímida, silenciosa, que agora vem todos os dias. Três figuras graves numa mesa de operação. De bruços, a face diante da mão esquerda, que avança ao mesmo tempoem que a perna esquerda também avança; braço esquerdo e perna direita fazem o movimento simétrico de lagarto, sob o comando das mãos adultas, que são os fios da marionete, quando a cabeça é voltada para o outro lado. Há uma cadência nisso - um, dois, feijão com arroz, três , quatro, feijão no prato - a mesma dos passos humanos; uma rede tentaculardo sistema neurológico há de estabelecer dominância cerebral e tudo que dela decorre, ele sonha. No programa, é fundamental reforçar a dominância cerebral, isto é, marcar um dos lados do cérebro como o dominante. Os três se movem como autômatos, naquelas curtas sessões de cinco minutos quase que de hora em hora, quando ele interrompe o livro que escreve - apareceu um bebê no seu livro, o menino Jesus, filho de um burguês vampiro, picareta de imóveis que em 1970 faz discursos edificantes sobre o bem, a moral e os bons costumes, enquanto suga literalmente o sangue da aorta de mulheres jovens e indefesas - e vai para a linha de produção de seu próprio filho. O seu personagem sempre tem o cuidado de proteger os furos caninos n pescoço das vítimas, que desmaiam, com delicados bandeides. O escritor fecha os olhos: talvez seja a ciança que, do seu silêncio, esteja comandando os gestos cadenciados, quase militares, dos três adultos em torno del, e o pai lembra a piada dps pombos que adestram os humanos - e sorri.
Em 1975 estava na Alemanha como imigrante ilegal. Pediu dinheiro emprestado para a passagem de trem Coimbra-Frankfurt e desembarcou na Hauptbahnhof com algumas moedas no bolso, um endereço e o esboço de um mapa das ruas. Era perto dali - poderia ir andando. Atravessou a bela ponte sobre o Main com a mochila nas costas, tentando vencer o pânico que começava a lhe tomar conta da alma. Não conseguia viver completamente o papel juvenil de um Marco Polo descobrindo o mundo, que desenhara para si mesmo. A mítica Alemanha dos livros que leu - Goethe, Thomas Mann, Günter Grass: ele estava ali, pisando aquele solo.Mas havia o medo, onipresente. Se não encontrasse trabalho, o que faria? Era incapaz de dizer uma só palavra e alemão. Chegou enfim ao prédio imenso do Hospital das Clínicas - a interminãvel sequência de letras na fachada lhe sugeria isso, aos pedaços - e foi direto ao subsolo, seguindo as instruções. Deveria procurar um certo Herr Pinheiro. Herr Pinheiro era um simpático argelino que falava todas as línguas do mundo. O medo agora dava espaço para uma euforia crescente - mal terminou de indagar e já foi conduzido a um vestiário, onde recebeu um uniforme todo branco e um armário para guadar suas coisas. Sete marcos a hora, a proposta. Nem precisou dizer sim- sorriu. Euforia. Dominância cerebral, ele pensava, como um mantra, cadenciando os gestos do filho sobre a mesa. Um escravo do antigo Egito, levado às gargalhadas para remar o barco dezoito horas por dia na escuridão do porão - ele riu com a imagem - só pela satisfação de continuar vivo, aguentar a arquitetura daqueles ossos em pé, nem que seja por um único dia a mais. Tão estúpido que veste o uniforme sobre a calça e a camisa, e sai dali um repolho ridículo, até que no corredor uma mulher sorridente, falando uma língua impossível, explicas em gestos bruscos, mas maternais, que ele deve antes tirar a roupa para só então colocar o uniforme. Finalmente adequado, entra na gigantesca lavanderia do hospital. Tempos modernos, ele lembra, estetizando a vida - Chaplin na linha de produção. Como se sente escritor, vive equilibrado no próprio salvo-conduto, o álibi de sua arte imaginária, o eterno observador de si mesmo e dos outros. Alguém que vê, não alguém que vive.
Pega a criança no colo, depois da série de movimentos, e repete a canção idiota que inventou no esforço de construir a imagem de um pai, que ainda não encontra em si mesmo - Era um pitusco pequeninho bonitinho safadinho bagunceiro... - e o devolve ao chão, de face para baixo. A ideia do tempo - não, a presença física do tempo mesmo - só é percebida integralmente quando opróprio tempo, de fato, começa a nos devorar. Antes disso (ele divagará anos depois) , o tempo é a marcação do calendário e mais nada; durante um bom período da vida parece que há uma estabilidade, uma espécie tranquila de eternidade que escorre em tudo que pensamos e fazemos. Derrotamos o tempo; corremos mais rapidamente que ele. Se o demônio aparecesse ali, ele faria o pacto - e sorriu com a ideia. O pai abre o livro de Piaget sobre a inteligência da criança e testa o filho todos os dias - uma corrida contra o tempo, sim, mas nessa época o tempo ainda está imóvel, o que facilita as coisas. Neste momento, se eu ponho esse bonequinho de plástico no chão o bebê vai atrás e vai tentar agarrá-lo; mas se eu ocultá-lo com a mão ou o lenço, a criança vai se desinteressar por completo, como se o boneco desaparecesse. Faz o teste: é verdade. Fica feliz: uma criança normal, fantasia ele. Mais um pouco e o bebê será capaz de reconhecer o boneco apenas pelo pé que ficará à mostra. Talvez amanhã. Ou depois de amanhã. Há um prazo razoável na normalidade. Por enquanto ele ainda não reconhece o boneco apenas pelo pé - o que é normal, ele confere no livro.
Mas o treinamento não terminou. No canto da sala o marceneiro instalou a peça encomendada: uma rampa estreita de madeira que tem a forma de um escorregador para bebês, com proteção lateral. Um linóleo cobre a superfície da madeira. É preciso que essa superfície não seja áspera demais, que não permita o movimento, e nem lisa demais, que leve o bebê a escorregar. A sala se transforma aos poucos num espaço de trabalho; a casa, numa extensão de uma clínica - logo com ele, que passou a vida odiando médicos, hospitais, tratamenos, enfermeiras, remédios, doenças, corredores, morte- uma coisa puxa a outra. Coloca o bebê no topo da rampa, com a cabeça par baixo. Vamos lá, pitusco! Os braços da criança, que está de bruços, impedem naturalmente que ela escorregue - ma so mínimo movimento que ela fizer permiti-lhe descer alguns centímetros. Cria-se uma situação concreta para ajudar o bebê a reencontrar a sua estrada neurológica; segundo a cartilha, a descida da rampa é um auxílio para acelerar o desenvolvimento do rastejar em padrão cruzado, o das crianças normais. Não está no programa, mas o pai ainda coloca um despertador intermitente lá embaixo, no fim da viagem, como um estímulo a mais. A criança não vê o despertador, mas ouve o som estridente, que seus olhos procuram ainda em vão, do alto de seu pequeno abismo.
Deixa lá a criança e tranca-se no quarto para escrever seu livro. O demônio aparece em suas páginas na forma de um dito. Faz dicursos beletristas e virulentos contra DEus e o mundo, e conspira para o fracasso do Ensaio da Paixão, tema do romance. Expressão de um cinismo mal resolvido, hás um toque pesado de grotesco na sua figura. É preciso evitar o estereótipo, ele sabe, pensando alto e longemas não dispõe ainda de um imginário alternativo sólido; vive um mundo, parece, que se esforça duramente para a simplificação mental, e é preciso fugir dela a todo custo. às vezes, tem a viva sensação de que é escrito pelo que escreve, como se suas palavras soubessem mais que ele próprio. (Não sabemos tudo ao mesmo tempo; avançamos soterrando camadas de conhecimento, ele divaga.) Acende outro cigarro e vai à sala - a criança já desceu meio metro. Dá mais corda no despertador - o queijo do ratinho - e volta correndo ao quarto: uma frase imperdível lhe surgiu.
O trabalho na lavanderia era mecânico - uma enorme garra de ferro descia do alto com toneladas de roupas lavadas, largando-as num balcão, e a função dele era separá-las rapidamente. Toalhas de banho, toalhas de rosto, lençóis, fronhas, cada tamanho num carrinho, que assim que ficavam cheios, eram levados para as passadeiras, que por sua vez gastavam as horas esticando manualmente as peças para ofertá-las a uma espécie de impressora rotativa que engolia aquilo, devolvendo tudo dobrado para as mãos de alguém que, com outro carrinho, desaparecia por uma porta distante, de volta ao prédio central."




O filho eterno . Romance. Editora Record, 2007. 223 p.
Prêmio Jabuti - melhor romance
Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) - melhor obra de ficção
Prêmio Bravo! - Livro do Ano
Prêmio Portugal-Telecom de Literatura em Língua Portuguesa - 1º lugar
Prêmio São Paulo de Literatura - Melhor livro do ano 2008


http://www.cristovaotezza.com.br/critica/ficcao/p_fic_o_filho_eterno.htm

12 março, 2009

Dia do bibliotecário

Depósito de Livros
Luzes do Silêncio
Legados Humanos
Diálogos Poéticos
Palavras-coisas
Pequenas Encenações
Jogos da Linguagem
Versos Tecidos
Dúplices Palavras
Sentimentos Atemporais
Observatório da Freguesia
Amálgama do Mundo
Imagem Romântica

09 março, 2009

à maneira provençal - haroldo de campos

carmen castelã domina
estas torres de palavras
que eu construo como quem
junta limalhas de ferro
fazendo da língua imã


amor vendado de ouro
com dedos de purpurina
traça no ar o desenho
de som de sentido e sina


carmen castelã domina
estas torres de linguagem
imagem de mãe e filha
rosto de amante e menina
senhal miragem poesia


e o tempo de chá e Proust
se dissolve qual neblina
volta a manhã volta a noite
o escuro se faz matina


e é tudo como se fosse
a mesma matéria-prima
de vida revisitada
de instante que não termina:
carmen castelã domina
o tempo reprimavera
na trama da luz mais fina
neste castelo de ar
carmen castelã domina
feto de ser e de tempo
que o imã da língua junta
qual limalha de platina


amor vendado e vidente
aos pés do castelo assina
seu mistério e grava o nome
com selo de turmalina


diz camões que o amador
na coisa amada se ultima
horácio diz: carpe diem
curte o tempo: flor que fina


mas aqui o tempo tira
da garganta a mão mofina
s’insempra – Dante diria
se enamora: repristina


amor dessela o mistério
que tem seu nome por cima:

“amor mais forte que a morte”
diz a pedra turmalina

neste castelo de torres
carmen castelã domina

uma idéia infantil

quando criança, morando no rio de janeiro, imaginava que todos aqueles morros eram monstros de pedra enormes, deitados, adormecidos, milenares protetores da cidade.
um
dia
iriam
levantar.
*rio de janeiro, 2007

03 março, 2009

Ensaio sobre a cegueira


"...como se se encontrasse mergulhado de olhos abertos num mar de leite"

O filme começa e logo aquela imagem excessivamente branca toma conta da tela, a fotografia já começa a pertubar. Cenas desfocadas deixam a sensação desconfortável do que seria não enxergar. Repugnância, revolta, e outros sentimentos repulsivos são transmitidos ao espectadores, bem como no livro - claro que a leitura é mais carregada de olhares (escritor, narrador e personagem). Fernando Meirelles não decepciona. Tem a adorada Juliane Moore. E o guapo Gael Garcia Bernal.




Para relembrar, um trecho:

"O mal da rapariga dos óculos escuros não era de gravidade, tinha apenas uma conjuntivite das mais simples, que o tópico ligeiramente recomendado pelo médico iria resolver em poucos dias. Já sabe, durante esse tempo só tira os óculos para dormir, dissera-lhe. O gracejo levava muitos anos de uso, é mesmo de supor que viesse passando de geração em geração de oftalmologistas, mas o efeito repetia-se de cada vez, o médico sorria ao dizê-lo, sorria o paciente ao ouvi-lo, e neste caso valia a pena, porque a rapariga tinha os dentes bonitos e sabia como mostrá-los. Por natural misantropia ou demasiadas decepções na vida, qualquer céptico comum, conhecedor dos pormenores da vida desta mulher, insinuaria que a bonitez do sorriso não passava de uma artimanha de ofício, afirmação maldosa e gratuita, porque ele, o sorriso, já tinha sido assim nos tempos não muito distantes em que a mulher fora menina, palavra em desuso, quando o futuro era uma carta fechada e a curiosidade de abri-la ainda estava por nascer. Simplificando, pois, poder-se-ia incluir esta mulher na classe das denominadas prostitutas, mas a complexidade da trama das relações sociais, tanto diurnas como nocturnas, tanto verticais como horizontais, da época aqui descrita, aconselha a moderar qualquer tendência para juízos peremptórios, definitivos, balda de que, por exagerada suficiência nossa, talvez nunca consigamos livrar-nos. Ainda que seja evidente o muito que de nuvem há em Juno, não é lícito, de todo, teimar em confundir com uma deusa grega o que não passa de uma vulgar massa de gotas de água pairando na atmosfera. Sem dúvida, esta mulher vai para a cama a troco de dinheiro, o que permitiria, provavelmente, sem mais considerações, classificá-la como prostituta de facto, mas, sendo certo que só vai quando quer e com quem quer, não é de desdenhar a probabilidade de que tal diferença de direito deva determinar cautelarmente a sua exclusão do grémio, entendido como um todo. Ela tem, como a gente normal, uma profissão, e, também como a gente normal, aproveita as horas que lhe ficam para dar algumas alegrias ao corpo e suficientes satisfações às necessidades, as particulares e as gerais. Se não se pretender reduzi-la a uma definição primária, o que finalmente se deverá dizer dela, em lato sentido, é que vive como lhe apetece e ainda por cima tira daí todo o prazer que pode."

Título Original: Blindness
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 120 minutos
Ano: 2008
Direção: Fernando Meirelles
Roteiro: Don McKellar, baseado em livro de José Saramago
www.ensaiosobreacegueirafilme.com.br

01 março, 2009

feliz rio!



notório
simplório
inspiratório
renovatório
relicário
delírio
diário
unitário abecedário casório imaginário
confessionário
incendiário
colírio
território
transitório
aniversário
sorrio
rio.


* pão de açúcar, 2007